16 de dezembro de 2005

MATERNA 2

Quando se confia um texto nosso para adaptação, seja ao teatro ou cinema, entregamos a coisa um bocadinho nas mãos de Deus. Isto é: seja o que o Dito quiser. Adaptar é transferir para um novo meio aquilo que provém de outro regido por diferentes regras. O que não é fácil.
Mas é também um olhor de um "leitor" sobre o que foi feito e a respectiva filtragem e recontrução da obra original.
A adaptação de José Rui Martins e do Trigo Limpo-ACERT foi uma encantadora surpresa. Conseguiram fazer o SEU espectáculo respeitando escrupulosamente o que tinha sido um livro.
Personagens como Sacha, o-dos-olhos-azuis, ganham uma tridimensionalidade que não deixa de emocionar o antigo leitor. As figuras das meretrizes descolam-se das folhas onde se inscrevia a Túlipa Negra e movem-se, cantam e fazem rir.
O trabalho dos actores é, na sua generalidade, bastante bom. Boas soluções de encenação foram encontradas para uma narrativa inicial muito longa e variadíssima no espaço e no tempo.
Também o trabalho de cenografia é formidável, inaugurando-se o espectáculo com uma cadeia feita de luz e fumo esteticamente formidável.
Chamada de antenção para a música feita por alguns dos nossos melhores músicos e cúmplices da companhia. Entre outros Zeca Medeiros (o realizador de Xailes Negros e músico premiado este ano com o troféu José Afonso) ou Carlos Guerreiro (Gaiteiros de Lisboa...).
Nenhum crítico, que eu visse, se dispôs a percorrer os 300 km desde a capital ou a hora de carro que separa o Porto. Mas espero que ainda o façam, ou perderão um belíssimo espectáculo.
E não falo por mim, que a noite de alegria de ontem foi da companhia teatral e do público convidado.
ps: também é maravilhoso ver esgotar salas de 300 lugares para ver teatro.

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